sexta-feira, 5 de setembro de 2008

...Perdi minhas pernas. Estou correndo, mas perdi minhas pernas. Tudo passa tão rápido. E de repente tudo pára. O tempo deixa de existir. Paradigmas são fases idiotas.

Minhas mãos estão soando. Meu coração não existe para alguns. Portanto está acelerado. É como se eu acabasse de acordar de um coma. Não um sonho, mas um coma. Um silêncio nos lábios. Os pés não enxergam o chão. Tudo era tão calmo. Como no fundo de um lago. Suas profundezas escuras e serenas. Mas externamente tudo tão confuso e claro. Essa claridade me cega; dilacera minhas retinas.

Não sei mais. Bom, nunca soube. Pensava que sabia de alguma coisa. Agora são tantas perguntas criadas! Que no final elas chegam ao ponto de se anularem!

...Perdi minhas pernas.

Estou parada em frente a uma rua. Sentada no meio-fio. Não passam carros. O bar da esquina fechou. A moça que trabalha no mercado ao lado já foi embora. Uma chuva fina perfura meus ossos; como pequenas agulhadas constantes.

...Perdi meus cigarros! Ah, como é bom sentir aquela fumaça entrando e saindo de meus pulmões. Escuto uma música longe. Tão distante como minha cabeça do meu corpo. O tempo é tão surreal. Efêmero, esta é a palavra certa para sua definição.

Meu livro está molhado. Caiu na enxurrada que percorre a cidade.


(Bianca Azenha)