segunda-feira, 1 de setembro de 2008


Quimeras

O observavam, sim, o observavam...
As pílulas confundiam-se aos livros na estante e no chão, sobrepostos, empoeirados e que não serviam mais pra nada. Ele nem tentava se levantar, não importava quanto os seus atos. As palavras demasiadas eram ausentes, agora se restava apenas o sulco imundo da dor e solidão.
A noite estava clara, a lua estendia-se pelo céu. A escuridão era adjacente e os olhos da coruja imperceptíveis. O som do vento acoplava-se ao som do rock’n roll. Janis Joplin cantava naquele instante.
Escreveu na parede pensamentos translúcidos. As letras embriagadas formavam palavras. Eu observava sentada, inalando a fumaça daquele fumo inebriante. Não mais pranteava como uma depressiva e alcoólica desesperada. Apenas ansiava sentada no chão... Encontrei folhas e um lápis já torturado por alguma mão desastrada. Pensei até em riscar algumas linhas, mas não consegui.
Nossos corpos vencidos pelo vício entregavam-se uns aos outros como se não houvesse mais dias posteriores àqueles. Ele me entreolhava, e eu respondia com um sorriso seco e cansado.
Esperávamos os dois. Esperávamos ambos pelo amanhecer. Enfim, nos abraçamos loucamente... O sono nos buscou com uma leve brisa de pesar. Estava ao teu lado a todo instante e ele me apertava contra o teu peito. O cigarro era guimba agora. A insônia era sonho. E a morte era o vinho. Os olhos dele, semi-serrados, derramavam uma lágrima, somente uma. Dei-lhe um beijo na testa.
Deitados naquela cama tínhamos o mundo, descobríamo-lo. Procurávamos ambíguos, nossos prazeres... E dormíamos, como agora. Para beber, sofrer, agonizar e viver o próximo dia que chegava.


Bianca Azenha

Nenhum comentário: