terça-feira, 30 de junho de 2009

Ele dizia tudo aquilo de forma dissonante. Um dó, ou melhor, um ré ensinado por mãos que já conheciam muito bem o que estava tocando. Costumava me contar histórias de hospitais sujos, quartos sem números e problemas psíquicos. Eu já gostava de narrar as dores de cabeça, os cabelos cortados, os desmaios e aquela história de filhos e alguns porres. Às vezes nos amávamos tão verdadeiramente que no fim chegávamos à conclusão que não passava de um sonho, a realidade não era nada disso, ser adulto e ser feliz ao mesmo tempo era difícil. Mas eu insistia que dava pra fazer tudo aquilo junto com tudo aquilo. Eu sempre tentei fazer tudo junto, tudo misturado, querendo tudo. Aí eu pedia pra fazer silêncio, escutar o barulho da chuva no telhado de zinco. Queria um cálice de vinho. Cáli-ce. Ouça, ouça. A chuva parou. Depois de tudo virava pro lado, ele chegava e me abraçava e eu - arrepios.
Bianca Azenha.

4 comentários:

Maria disse...

Nossa! Que lindo, Bianca. O trocadilho ficou o máximo!

Meu beijo

Aline Ahmad disse...

Cheguei por aqui quase sem querer, mas nao vai ser por querer que vou ficar...
Adorei seu blog. Qualquer hora visite o meu!
Beijos de luz,
Aline***

. disse...

Muito legal o texto..
parabens
Beijos

Clarice disse...

Olá, vim agradecer sua visita e conhecer seu espaço, gostei tanto da sua descrição ... ser uma pergunta não limita, expande, é uma bonita imagem de ser. Volto mais vezes. beijos da janela